“Há que viver.” – foi esta a mensagem que escutei nas entrelinhas, ou com as letras todas, durante as minhas férias “on the road” por Espanha e sul de França. Volta e meia, alguém dizia, “Hay que vivir.”
No dia do regresso a casa, recebo as tristes e chocantes notícias de duas mortes súbitas de pessoas queridas. E de repente, como diz a minha amiga Patrícia Lima, a conjugação dos verbos deixa de fazer sentido. Falar hoje no passado sobre alguém que estava aqui ontem, é algo que não é compreensível para a nossa mente e coração.
Como assim, não tinha problemas de saúde? Como assim, morreu em quatro dias? Como assim, estava ótima e ótimo? Como assim já cá não está?
Como assim? Como assim? Como assim?
Assim mesmo.
Sem sentido.
Há uma citação que diz, “A diferença entre os filmes e a vida é que os guiões têm de fazer sentido, a vida não faz.”
E não faz mesmo.
E é injusta, por vezes. Às vezes, muitas vezes.
Que fazer?
Revoltarmo-nos? Gritarmos? Chorarmos? Desapontarmo-nos? Perdermo-nos? Sim.
E depois disso tudo?…
Mudar o que aconteceu? Não podemos.
Mudar a lente de com que vemos o que aconteceu? É possível.
E é a única coisa que é possível fazer. Focar noutra coisa. Focar em algo diferente. Focar em algo melhor. Focar na mensagem, por exemplo.
A nossa mente é uma câmara que está permanentemente ligada. E o que podemos fazer é mudar a lente e escolher focar naquilo que nos enriquece a vida, naquilo que nos alimenta a alma, no serviço ao outro, nas pessoas que precisam de nós, naqueles que quando se vão embora nos deixaram melhor do que quando nos encontraram, na partilha, na certeza da abundância, na fé em algo maior que nós, maior que o nosso ego que sempre tenta o lugar do pódio, inseguro atrás das suas próprias grades.
Qual é a ação que posso fazer hoje que irá ajudar alguém, cuja vida de alguém ficará melhor por isso?
É perguntar como estás? É dar um sorriso? Um abraço? Tempo? Atenção? Compreensão? É dar-lhe espaço? É fazer-lhe um bolo? É escutá-lo? É dar-lhe uma oportunidade? Um banho? Um beijo? É marcar presença? É dizer sim? É dizer não? É não dizer nada?
Nem sempre estamos capazes de estender o braço, porque somos humanos. Somos finitos. Temos limites e limitações. Somos inconstantes e frágeis.
Mas se há algo que nos liberta do nosso próprio sofrimento é contribuir para o bem-estar e felicidade de alguém, se isso nos for possível fazer naquele dado momento.
Viver, é aqui e agora. Partilhando o pouco ou o muito, o tudo ou o nada que tenhamos para dar ou para receber.
Elisa de Lima, Riba de Âncora, 18.07.2023
PS: Uma das mais importantes formações que fiz foi “Educação para a Morte”, através das organizações sem fins lucrativos, Wakeseed e a Amara. Recomendo a todos.