Tinha 10 anos

a menos que eu e era parolo. Era parolo, pronto. E daí? E só era parolo porque vivia onde existe alguma outra coisa com que isso se pode comparar e que, por conseguinte, não é a parola.

Ser parolo é relativo. É como ser chic. Há lugares em que nenhum deles existe. Todos são parolos e todos são chics, e ninguém é. Eu já fui muito parola. Quando trabalhei nas aldeias da Amazónia Peruana e, à noite ía para os bailes populares dançar cumbia. Era bem parola nessa altura.

Ao início só via parolice à minha volta. Eu, vinda da Europa coquete achava que não poderia haver jamais algum divertimento a sério no que era supostamente “reles” ou “foleiro”, usando o calão. Foleiro, mas verdadeiro. Percebi depois. E aprendi a ser parola e mais, a gostar. E fui parola muitas noites depois disso.

O parolo, muito mais que uma forma de vestir ou ouvir, é essencialmente uma forma de pensar. Ou melhor, de não pensar. Os verdadeiros parolos não pensam, nem se preocupam com isso. Assim, retiro o que disse ao princípio.

Tinha 10 anos

a menos que eu e de parolo não tinha nada. E de pensar, tinha muito. Encontrávamo-nos aí. No pensamento. Na partilha da solidão que a todos os que pensam e escrevem, acompanha.


Portugal, Porto, Maio 2014

Foto: Iquitos, Peru, 2008

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